O JOGO DO AMOR:
CAPÍTULO 2
Logo após espiar pelo olho mágico da porta
eu a abri, com isso o homem na frente de minha porta levantou o olhar para mim,
me analisando de cima a baixo.
— Lorena? — com um sorriso breve ele
perguntou, claramente mais por educação do que por dúvida.
Fiz que sim com a cabeça,
— Sou
seu primo Gabriel. — ele se apresentou.
Eu sorrio brevemente com leveza e, vendo
onde tinha ido parar a beleza da família, convido ele para entrar.
— Nossa, você precisa mesmo de móveis. —
Gabriel fez uma careta conforme julgava de leve o lugar — Como conseguiu dormir
essa noite?
Dei um sorriso constrangido, os dedos involuntariamente
subindo para tentar arrumar uns dois ou cinco cachos rebeldes que despontavam
irregulares de meu cabelo. Estava me sentindo uma mendiga tendo que depender tanto
assim dos meus tios.
— Bom, eu fiz uma cama improvisada ali no
chão. — Aponto-lhe a porta de meu quarto, onde estava aberta e os meus edredons
no chão e travesseiro eram uma bagunça visível de onde estávamos — Fiz um
casulo para mim.
Ele sorriu de canto, admirando a obra.
— Esperta, vou mandar trazerem os móveis e
colocarem na sua sala, depois te ajudo a colocar no lugar, tudo bem?
Eu escutei a voz baixa misturada ao sorriso
de lado. Será que ele estava flertando comigo?
— Tudo bem, eu vou me vestir — eu disse, de
repente sentindo que esse era um ponto importante.
Ele me olhou de forma preguiçosa e demorada
antes de assentir. Observei-o sair de minha casa, deixando a porta aberta.
Provavelmente iria falar com quem o ajudou a trazer meus móveis. Gabriel era
meu primo, no entanto, considerando que eu e ele mal tivemos contato ao longo
da vida e éramos praticamente estranhos um para o outro, a situação não soava
tão estranha assim. Agora, precisava ajudar a arrumar as coisas em meu
apartamento.
Com isso, fui para meu quarto e comecei a
me vestir. Coloquei uma calça jeans, lingerie vermelha, blusa preta e jaqueta
marrom. Em seguida, calcei minhas pantufas e logo ouvi os barulhos dos móveis,
enquanto meu primo conversava com outro homem, orientando-o sobre onde deveria
colocá-los.
Após ter terminado de me arrumar, saí do
meu quarto e percebi que eles já haviam trazido uma geladeira, mesa e sofá. Ainda
faltava o guarda-roupa, cama, uma poltrona e um micro-ondas, pelo que eu notei.
Decidi voltar para o meu quarto para não atrapalhar os dois e arrumei minhas
cobertas e travesseiros, tirando-os do chão.
Não demorou muito e os móveis estavam
dentro da minha casa. Nesse momento, meu primo bateu à porta do meu quarto.
Enquanto eu dobrava os edredons do chão e os colocava em um lugar alto para
evitar sujeira, olhei para ele.
— Seria pedir demais que você me ajudasse a
colocar a cama e o roupeiro no quarto?
Perguntei,
batendo a poeira invisível das palmas das mãos. — Aliás, essa é uma ótima forma
de deixar uma mulher sem jeito, sabia? Ficar olhando assim...
Eu movi minha mão em um gesto brando na
direção dele, apontando dos pés dele à cabeça para ilustrar o que eu tinha
dito. Ele retrucou.
— Você fez o mesmo quando abriu a porta
para me deixar entrar na sua casa. — Ele deu de ombros — Me devorou com os
olhos. Pensa que eu não notei?
Um sorriso sacana tomou forma nos lábios
dele, e por um segundo senti minhas bochechas queimarem.
— Vamos pegar a cama. — Me apressei para
fora do quarto, dando um tapinha encorajador no ombro dele.
Peguei a cama pela parte mais fácil, os pés,
e o meu primo segurou a mesma pela cabeceira. Juntos erguemos a cama, e levamos
ela com cuidado até a porta de meu quarto. Como a cabeceira era estreita, não tivemos
grandes problemas em conseguir carregar o móvel para dentro. Já o roupeiro
seria outra história, teríamos que levá-lo em partes. Terminando de posicionar a cama no lugar certo,
colocamos o colchão por cima, então finalmente parei para descansar um pouco.
— Não vou dormir mais no chão. — comemoro
aliviada.
Gabriel sorri e fala.
— Isso é bom, agora só falta o roupeiro. Vou
trazer a parte principal.
Respirei fundo para recuperar o fôlego e fui
ajudá-lo a terminar o trabalho, montar o bendito roupeiro.
Depois fui até a cozinha e arrumei a mesa,
liguei a geladeira. Já tinha armários e pia, além de outras coisas importantes
em minha casa. Havia um micro-ondas que poderia ser usado para comidas
pré-prontas. Tudo concluído, eu me sentei no sofá, cansada. Já haviam se
passado horas, provavelmente um relógio em algum lugar já marcava duas da
tarde, meu primo senta se ao meu lado.
— Aconselho você comprar algo para comer,
já está de tarde.
— Pois é. — Digo, olhando para minha
cozinha.
Rimos juntos, ambos parecíamos cansados,
com a respiração desregulada e a pele brilhando de suor. No entanto, algo mais
profundo se manifestou dentro de mim, uma atração que eu não conseguia ignorar.
— Obrigada pela ajuda.
A tarde iniciou na rua, e eu abri o iFood
para pedir comida para nós dois.
— Relaxa, foi tranquilo.
Ele lançou aquele sorriso de canto
novamente. Meu coração disparou, e meu corpo inexplicavelmente ansiava por um
momento íntimo. Respirei fundo, esperando não ter transmitido a tensão que
sinto por ele.
— Bom, eu pensei em encomendar lanche para
hoje, já pedi algo e está a caminho, acho que vai levar uma hora para chegar.
Ele levantou o polegar em sinal de
concordância, eu me levanto e vou até meu celular, em busca de alguma mensagem
para tentar me distrair do sorriso dele e da tensão palpável no ar, Gabriel
interrompe.
— Eu ia te indicar uma lanchonete mas se tu
já pediu, então deixa pra lá.
Eu o observo. Ele pega o celular e pesquisa
rapidamente, depois me mostra a lanchonete, seus cachos adoravelmente cobrindo
o rosto quando ele o abaixa para a tela.
— Pedi comida com hambúrguer artesanal —
informo.
Ele concorda, meio distraído.
— Olha eu vou tomar um banho, ok? — Deixo
meu celular sobre a mesa.
Eu fiquei tentada a convidá-lo para tomar
banho comigo, mas sabia que seria ousado demais, mesmo que estivesse cheia de
desejo por ele naquele momento, então me contive.
— Pensei em tomar um banho também. —
Gabriel fala, sugestivo.
Eu me viro, surpresa pela ousadia que me
veio à mente ter partido dele em voz alta.
— A-agora? C-co-comigo? — Eu gaguejei, sem
ação.
— Eu tomaria um banho depois, mas não me
oponho em te fazer companhia. — Os olhos dourados fixam nos meus — Na verdade,
seria muito prazeroso.
Ele ainda sustenta aquele sorriso
malicioso, e o tom da palavra "prazeroso" que escapa de seus lábios
parece envolvente e sedutor. Eu devo ter exibido um expressão surpresa, pois
ele riu suavemente, mantendo aquele ar sedutor. Minha deusa interior ansiava
por aceitar a ideia, mas minha consciência interna insistia em dizer não.
— E-eu acho melhor depois. — Notei que foi
algo ambíguo. Depois o que? O banho, certo? Depressa, arrumo as palavras
— Quero dizer, você. Você tomar depois.
Ele mantém o olhar.
— Relaxa, priminha.
Com o coração batendo descompassado, peguei
minha toalha e calcinha e caminhei até o banheiro. Meus produtos de higiene
pessoal já estavam dispostos no ambiente, aguardando minha chegada. Assim que
entrei, fechei a porta atrás de mim e comecei a me despir. Liguei o chuveiro,
pendurei a toalha e deixei a calcinha sobre a tampa fechada do vaso.
No meio do banho, ouço batidas na porta.
— Sim?
Meu primo responde:
— Eu gostaria de mijar um pouco.
O boxe era de vidro escuro, o que
significava que ele poderia entrar e me ver nua. No entanto, uma parte de mim,
minha deusa interior, ansiava por isso. Com um movimento, virei de costas para continuar
meu banho, e ouvi a porta do banheiro se abrir e fechar. Uma sensação de
antecipação tomou conta de mim, meus seios se arrepiaram e um frenesi percorreu
todo o meu corpo. Minha essência ansiava por aquilo, e eu queria isso mais do
que nunca.
Depois de alguns minutos de silêncio escutei
o barulho do boxe abrindo, então senti o hálito quente dele em meu ouvido.
— Você sabia o que eu queria quando me
deixar entrar, não é? — ele sussurrou.
A voz do meu primo carregava intensidade,
repleta de desejo, e eu ecoei no mesmo tom.
— Sim...
Senti seus lábios roçando meu pescoço, e ao
respirar fundo, o calor de seu hálito me arrepiou. Suas mãos deslizaram pela
minha cintura, fazendo meu corpo amolecer, e eu me inclinei em direção a ele,
sentindo claramente a tensão entre suas pernas. Seu desejo estava palpável, seu
membro rígido e pulsante.
— Nossa...
— Você me deixou assim... — ele sussurra ao
pé de meu ouvido.
Eu rebolei com meu quadril encostado no
dele, convidando e atiçando mais, não tardou para o mesmo entender o que eu
também queria. Ele me virou de frente para ele, buscando um beijo ardente e
quente em meus lábios, logo me pegando no colo, minhas pernas emendaram em
torno de seu quadril, me deixando exposta para ele, pronta para ceder em seus
braços, em sua boca, em seu corpo.
Sentia seus movimentos, gradualmente
tomando posse do meu ser, do meu corpo, e apreciava o prazer que exercia sobre
mim. Cada pelo da minha pele se eriçava, e eu gemia alto em seu ouvido,
enquanto ele me dominava, amando intensamente cada segundo, cada minuto. O
cenário do banho e o banheiro se tornaram apenas um pano de fundo para a nossa
diversão.
Dois dias haviam se passado depois daquele
momento com meu primo, onde passamos boa parte do dia juntos e após o lanche
resolvemos testar por diversas vezes a cama e o colchão. Minha cama nova se
provou bem resistente.
Eram sete horas da manhã. Eu havia acordado
cedo e já arrumava minha camisa social e calça jeans para começar a trabalhar
na empresa Drummond.
Me perguntei se por obra do acaso acabaria vendo
Gustavo novamente, mas logo balancei minha cabeça me livrando dos pensamentos
com ele, voltando ao meu foco para a missão, agora particularmente difícil, de
arrumar meu cabelo. No fim, resolvo prendê-lo em uma colinha, e coloco argolas
médias em minhas orelhas para disfarçar o cabelo rebelde.
Estava pronta.
Então, fui até a minha cozinha e peguei um
pacote de pão. Também peguei um copo de vidro e coloquei leite dentro,
aquecendo-o no micro-ondas. Da geladeira, tirei meu requeijão e o coloquei
sobre a mesa, preparando meu café da manhã. Depois da refeição, coloquei a
louça na pia e arrumei a mesa, deixando tudo impecável, já que não voltaria
para casa antes das seis horas da tarde.
MOMENTOS
DEPOIS...
Ao chegar no trabalho, eu me sentia perdida
no meio daquela enorme empresa. Estava sendo apresentada às minhas funções e,
nesse momento, fui designada para uma sala de escritório com pouca privacidade,
com uma pequena parede de divisória da mesa vizinha, cujo ocupante ainda não
sabia quem era. Respirei fundo e olhei para Luiza, a treinadora responsável por
me orientar e tirar minhas dúvidas. A mulher aparentava ter por volta dos
quarenta anos, exibindo uma aura de seriedade e elegância. Seus cabelos lisos e
negros complementavam sua aparência conservada.
Meu colega de trabalho finalmente apareceu.
Assim que o avistei, fiquei paralisada, incapaz de desviar o olhar para
qualquer outra pessoa ou lugar. Seus olhos azuis, seu cabelo escuro e seu
sorriso encantador familiares me deixaram sem palavras.
— Então você será minha colega Lorena? —
ele disse.
Ele ainda recorda meu nome? Sei que
parece aquele clássico de nerd apaixonada pelo cara mais bonito, mas Gustavo era
mesmo lindo. Notando como deveria estar parecendo uma boba olhando para ele, eu
desfiz o sorriso e apenas recuperei minha compostura.
— Cheguei agora. Você está desde a semana
passada trabalhando aqui, né?
Ele mantém seu sorriso lindo e fala:
— Sim, sim. É isso aí.
Olhei para cima da minha mesa e vi os
papéis com as tarefas a serem feitas. Comecei a lê-los, sentindo o olhar dele
ainda sobre mim. Arrisquei espiar de canto de olho e notei que ele virou o
rosto, mexendo em suas papeladas. Voltei minha atenção para os meus próprios
papéis e o computador. Logo comecei a mexer no computador, pegando a senha que
Luiza me passou. Ao inseri-la, tudo deu certo e acessei a área de trabalho,
visualizando os arquivos que eu precisaria ler e trabalhar.
Não percebi as horas passarem, envolvida
com o trabalho. Trabalhando na parte de marketing, eu, Gustavo e mais duas garotas
dividíamos o nosso canto do escritório. Nós, como assistentes de marketing,
éramos responsáveis por desenvolver ideias para resolver questões relacionadas
a propagandas, estratégias de marketing e divulgação. Após apresentarmos nossas
propostas, Luiza as encaminhava para o CEO, que era o chefe do departamento de
marketing e lidava com os problemas mais complexos e as reuniões estratégicas.
Ele costumava delegar os problemas mais "simples" para nossa equipe
resolver. Naquele momento, eu sabia que ele estava em viagem de negócios, conforme
me foi informado, mas Luiza enviaria tudo por e-mail para ele.
No escritório, havia outras divisões,
incluindo os assistentes administrativos, os assistentes de vendas e os
assistentes contábeis, cada um ocupando mesas separadas em grupos de quatro
pessoas. Enquanto minha mente se afastava da sala, mergulhava no problema em
questão: a tarefa de criar uma propaganda para a empresa de lingerie que me foi
designada, de acordo a papelada que acabara de ler. Estava concentrada ao
máximo até ouvir uma voz que me trouxe para a realidade. Ao meu lado, Gustavo
me oferecia um café, seus olhos azuis pousados em mim, me fazendo corar. e eu
arrumo a mecha de cabelo que caiu para a frente de meus olhos e digo:
— Obrigada Gustavo, mas eu não escutei
direito o que me falasse? — Arrumo uma mecha de cabelo que havia caído para
frente de meus olhos.
Ele sorriu
— Eu acredito, você estava tão focada no
projeto que fiquei com vergonha de te avisar que agora é o horário do
intervalo, almoço.
Meus olhos se arregalam um pouco, não tinha
notado tanto tempo passar. Dei um sorriso meio sem jeito e, grata, aceitei o
café que ele me ofereceu.
— Nossa… eu não percebi, eu estava lendo
sobre a visão profissional da empresa e as questões que deviam ser abordadas na
propaganda… e... — Bebo um gole do café que estava muito bom por sinal — Nossa,
esse café é bom. É da máquina de café?
— Não, eu fui até a cafeteria da equina,
assim como todos os outros colegas. — Gustavo se escora na divisória, desprendido
de formalidades.
Ele olhou ao redor. Acompanhando seu olhar,
eu notei que estavam somente eu e ele ali, ou seja, todos entraram em intervalo
e eu nem me dei conta.
— Eu sou um completo desastre social... nossa.
— Eu disse.
Ele parecia estar se divertindo.
— Não é não, é admirável na verdade, parece
uma mulher esforçada e focada. Mas e então, vamos almoçar?
Eu olhei para ele, surpresa com sua
pergunta, e corei.
— Não se preocupe, é um almoço entre
colegas de trabalho. — ele esclareceu.
Eu acenei afirmativamente, mas minha mente
me lançou uma pergunta: se é um almoço entre colegas, porque ele não convidou as
outras duas meninas para ir almoçar com a gente também? De qualquer forma, eu
não fiz objeções.
Logo eu e Gustavo estávamos caminhando para
fora da sala.
— Então, viesse de qual cidade mesmo aqui
para a capital? — ele perguntou.
— Pelotas, a cidade do doce. — Eu disse,
entre um gole e outro do café ainda quentinho.
Ele sorriu ao identificar a cidade onde
morava, reconhecendo-a após eu mencionar seu apelido. Caminhamos pelo corredor
e vi a secretária do CEO cumprimentando-o, seu olhar para Gustavo era como se pudesse
devorá-lo com os olhos. Senti uma pontada de inveja ao perceber isso, mas optei
por manter o silêncio. Observei-o retribuir o olhar dela e uma onda de ciúme me
invadiu, despertando uma raiva contida por vê-lo corresponder. Finjo não sentir
nada, até mesmo ignoro o que aconteceu, e então ele voltou seu olhar para mim.
— Então o que espera conseguir na empresa?
Um cargo e um salário ou uma carreira?
Tentando ao máximo controlar a raiva que
sentia, eu disse em um tom que devia soar calma e desinteressada com a
conversa, mas, acabou por ser um tom carregado de irritação.
— Uma carreira.
Infelizmente, ele notou minha irritação.
— Está tudo bem?
— Claro. — respondi um pouco rápido demais.
Mentalmente respondi a mim mesma para
desconsiderar o fato de que ele comeu com as trocas de olhares a secretária bunduda
bem do meu lado.
Gustavo
insiste:
— Você está bem mesmo? — Gustavo insistiu,
confuso
— Estou
ótima, Gustavo. — Não consegui controlar minha língua — Aliás, se queres tanto
passar tempo com a secretária, por que não vai almoçar com ela? Relaxa, eu sei
me virar sozinha. Já sou bem grandinha, não preciso de babá.
Ele parou de andar e arregalou os olhos. Eu
segui andando, mas tive meus passos interrompidos quando ele me puxou pelo
braço. Não foi um aperto doloroso, mas um aperto firme.
— Você está com ciúmes de mim?
Eu corei, ficando mais furiosa pela
acusação.
— Vai se ferrar Gustavo!
Desvencilhei meu braço de suas mãos e saí
de perto dele. Sem saber para onde estava indo, eu o deixei para trás, só querendo
me afastar. Caminhei por alguns minutos xingando Gustavo mentalmente, e o
triturando a cada passo. Na cafeteria da esquina que Gustavo havia comentado,
eu entro e vou direto averiguar os salgados que eles tinham, de repente me
dando conta do quanto estava faminta.
Quinze longos minutos na fila do balcão me
renderam três salgados, coxinha e dois pasteis de frango com requeijão. Vi um
sanduiche de presunto, queijo, tomate, alface e beterraba e acabei comprando
também. Pedi um suco de laranja para acompanhar e para meu pedido não demorou a
ser servido na mesa 7. Me sentei e comecei a degustar minha refeição
improvisada. Pelo canto do olho, percebi uma movimentação em minha direção, mas
a fome era tão maior e eu a ignorei totalmente, até ele sentar se na minha
frente.
Com a boca aberta, pronta para dar uma
terceira mordida na coxinha de galinha com requeijão, Gustavo se materializou
sentado bem na minha frente, como que para assistir a cena. Ele colocou na mesa
uma marmita que provavelmente tinha comprado no caminho e mandado embalar para
comer em outro lugar. Também pegou uma latinha de guaraná Fanta.
— O nome dela é Fátima, e eu e ela, bom, ficávamos
as vezes. — ele disse, abrindo a marmita.
Ele abriu a marmita e revelou uma refeição
completa, com batata frita, bife suculento, arroz, alface, tomate e feijão.
Observando a variedade de sua refeição, involuntariamente comparei o prato com
meus simples salgados. Meu estômago pareceu travar uma batalha interna,
repreendendo-me por ter cedido ao ciúme em vez de comprar uma refeição
adequada. No entanto, já era tarde demais para remediar a situação. Resolvi
continuar devorando a coxinha, na esperança de silenciar os protestos ruidosos
e insistentes do meu estômago. O conflito interno que eu enfrentava fez Gustavo
sorrir enquanto eu continuava a devorar minha coxinha lentamente, mordida por
mordida, até que não restasse mais nada, e então comecei a atacar faminta o
sanduíche. Foi nesse momento que ele falou.
— Se quiser algumas batatinhas, fique à
vontade.
Ele começou a comer, e eu revirei.
— Não — respondi, decidida.
Alguns minutos de silêncio e apenas os
barulhos de mandíbulas trabalhando enquanto saciam a fome do corpo, vinte
minutos depois eu me rendo as batatinha frita, pegando uma ou outra da marmita
dele.
— Eu gosto de você também, Lorena — ele
disse, como se estivesse informando a previsão do tempo.
— Cala a boca ou te atiro uma batatinha —
respondi quase em um rosnado entre dentes.
— Mas é verdade — ele sorriu enquanto
protestava.
— E fica olhando para a bunda alheia? —
resmunguei.
Ele
sorri e fala:
— Estamos só nos conhecendo eu e você.
Nessa hora, eu posso ter ficado vermelha de
irritação.
— Saiba que eu não gosto de homem galinha, Gustavo.
Já tenho problemas demais para me preocupar, obrigada, não preciso de mais um.
Terminei de comer a batatinha.
Após o almoço, Gustavo e eu deixamos de
lado a conversa sobre ciúmes e Fátima, e passamos a falar sobre nossos hobbies
e atividades preferidas no tempo livre. Descobri que ambos adorávamos caminhar,
andar de bicicleta e outras atividades ao ar livre. Ele aproveitou a deixa e me
convidou para um passeio de bicicleta no sábado. Tentando protestar para mudar o horário, sem
sucesso, concordei em encontrá-lo às dez horas da manhã de sábado.
DIAS
DEPOIS...NO SÁBADO
Finalmente o sábado chegou, mas fui
enganada pela minha ansiedade. Acostumada a acordar às dez horas, eu já estava
desperta desde as oito da manhã. Deitada, me revirava na cama, bagunçando as
cobertas sem necessidade. Olhei para o celular e vi que eram nove horas. Decidi
me levantar e sair da cama. Depois de tomar um banho rápido, coloquei uma
legging preta e uma regata branca de alcinha, aproveitando o dia mais quente,
com cerca de dezoito graus (para um gaúcho ou gaúcha já era considerado um dia
quente, um dia de primavera). Calcei meus tênis de educação física e prendi meu
cabelo em um rabo de cavalo alto. Estava pronta.
Mandei uma mensagem para Gustavo.
EU:
Estou
pronta e você?
GUSTAVO:
Eu já
estou te esperando aqui.
Ao ler a mensagem dele, eu imediatamente
respondi, dizendo que estava a caminho. Na realidade, porém, eu estava acabando
de sair de casa. Desci as escadas e cumprimentei Beatriz, que como sempre
estava na recepção. Ao sair pela porta da garagem, peguei minha bicicleta,
adquirida durante a semana para economizar nos custos diários com Uber para o
trabalho. Com o Google Maps aberto o tempo todo, segui em direção à praça
Itália. No caminho eu sigo o mapa do celular com cautela devido aos assaltos. Temia
muito perder meu celular, porque não teria dinheiro para comprar outro.
Chegando lá, fui envolvida pela beleza
deslumbrante da praça. O local era encantador, com um belo gramado e luminárias
que, embora estivessem apagadas devido à luz do dia, ainda acrescentavam um
toque de charme ao ambiente. Desci da bicicleta e me aproximei da ponte que se
estendia de um lado a outro, caminhando e absorvendo a paisagem ao meu redor. Sentia
a brisa suave acariciar meu rosto enquanto a roda da bicicleta girava
suavemente ao meu lado. Segurando firme no guidão, eu apreciava cada momento,
atravessando vagarosamente a ponte e respirando o ar puro do local. Ao longe,
avistei Gustavo, que parecia absorto em seu celular e não havia me notado.
Um sorriso discreto se formou em meus
lábios ao vê-lo. Sua vestimenta, que lembrava a de um bad boy motoqueiro, me
surpreendeu, mas optei por não julgar, uma vez que estava acostumada a vê-lo
sempre trajando roupas sociais. Embora surpresas assim fossem bem vindas, a
personalidade dele nunca me fez imaginar que ele usaria uma jaqueta de couro
escura e uma camiseta branca justa que realçava seu peito, tornando-o
notavelmente mais atraente. As calças jeans surradas, ajustadas em seu quadril,
quase me deixaram sem fôlego. Decidi me aproximar.
— Nossa, vestido dessa forma nem parece o
Guto que eu conheço — gesticulei para as roupas dele — Onde está sua bicicleta?
Ele interrompeu sua atenção ao celular e
ergueu seus olhos azuis em minha direção, lançando um olhar charmoso e sedutor
que me deixou corada e paralisada. Gustavo nunca havia flertado comigo dessa
maneira, pelo menos não desde que começamos a almoçar juntos esta semana. O que
estaria acontecendo com ele? Ele parecia tão diferente. Claro, diferente de um
jeito bom, que me fazia sentir viva e arrepiada. Ao passo que eu tentava
processar esses pensamentos, uma terceira voz, que parecia ser de Gustavo,
ecoou em meus ouvidos.
— Na verdade... eu sou o Gustavo. Queria
apresentar vocês, mas, parecem que já estão se conhecendo.
Com um salto quase desajeitado, olhei para
trás e quase caí, minha bicicleta inclinando para um lado e eu para o outro.
Antes que pudesse tocar o chão, Gustavo me segurou em seus braços, enquanto o
outro rapaz pegava minha bicicleta, evitando que ela caísse. Olhei de um para o
outro e minha mente começou a girar com a situação. Ele tinha um irmão
gêmeo?
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