Pular para o conteúdo principal

DEGUSTAÇÃO - O JOGO DO AMOR

 

O JOGO DO AMOR: CAPÍTULO 2

 

 

    Logo após espiar pelo olho mágico da porta eu a abri, com isso o homem na frente de minha porta levantou o olhar para mim, me analisando de cima a baixo.

    — Lorena? — com um sorriso breve ele perguntou, claramente mais por educação do que por dúvida.

    Fiz que sim com a cabeça,

   — Sou seu primo Gabriel. — ele se apresentou.

    Eu sorrio brevemente com leveza e, vendo onde tinha ido parar a beleza da família, convido ele para entrar.

    — Nossa, você precisa mesmo de móveis. — Gabriel fez uma careta conforme julgava de leve o lugar — Como conseguiu dormir essa noite?

    Dei um sorriso constrangido, os dedos involuntariamente subindo para tentar arrumar uns dois ou cinco cachos rebeldes que despontavam irregulares de meu cabelo. Estava me sentindo uma mendiga tendo que depender tanto assim dos meus tios.

    — Bom, eu fiz uma cama improvisada ali no chão. — Aponto-lhe a porta de meu quarto, onde estava aberta e os meus edredons no chão e travesseiro eram uma bagunça visível de onde estávamos — Fiz um casulo para mim.

    Ele sorriu de canto, admirando a obra.

    — Esperta, vou mandar trazerem os móveis e colocarem na sua sala, depois te ajudo a colocar no lugar, tudo bem?

    Eu escutei a voz baixa misturada ao sorriso de lado. Será que ele estava flertando comigo?

    — Tudo bem, eu vou me vestir — eu disse, de repente sentindo que esse era um ponto importante.

    Ele me olhou de forma preguiçosa e demorada antes de assentir. Observei-o sair de minha casa, deixando a porta aberta. Provavelmente iria falar com quem o ajudou a trazer meus móveis. Gabriel era meu primo, no entanto, considerando que eu e ele mal tivemos contato ao longo da vida e éramos praticamente estranhos um para o outro, a situação não soava tão estranha assim. Agora, precisava ajudar a arrumar as coisas em meu apartamento.

    Com isso, fui para meu quarto e comecei a me vestir. Coloquei uma calça jeans, lingerie vermelha, blusa preta e jaqueta marrom. Em seguida, calcei minhas pantufas e logo ouvi os barulhos dos móveis, enquanto meu primo conversava com outro homem, orientando-o sobre onde deveria colocá-los.

    Após ter terminado de me arrumar, saí do meu quarto e percebi que eles já haviam trazido uma geladeira, mesa e sofá. Ainda faltava o guarda-roupa, cama, uma poltrona e um micro-ondas, pelo que eu notei. Decidi voltar para o meu quarto para não atrapalhar os dois e arrumei minhas cobertas e travesseiros, tirando-os do chão.

    Não demorou muito e os móveis estavam dentro da minha casa. Nesse momento, meu primo bateu à porta do meu quarto. Enquanto eu dobrava os edredons do chão e os colocava em um lugar alto para evitar sujeira, olhei para ele.

    — Seria pedir demais que você me ajudasse a colocar a cama e o roupeiro no quarto?

Perguntei, batendo a poeira invisível das palmas das mãos. — Aliás, essa é uma ótima forma de deixar uma mulher sem jeito, sabia? Ficar olhando assim...

    Eu movi minha mão em um gesto brando na direção dele, apontando dos pés dele à cabeça para ilustrar o que eu tinha dito. Ele retrucou.

    — Você fez o mesmo quando abriu a porta para me deixar entrar na sua casa. — Ele deu de ombros — Me devorou com os olhos. Pensa que eu não notei?

    Um sorriso sacana tomou forma nos lábios dele, e por um segundo senti minhas bochechas queimarem.

    — Vamos pegar a cama. — Me apressei para fora do quarto, dando um tapinha encorajador no ombro dele.

    Peguei a cama pela parte mais fácil, os pés, e o meu primo segurou a mesma pela cabeceira. Juntos erguemos a cama, e levamos ela com cuidado até a porta de meu quarto. Como a cabeceira era estreita, não tivemos grandes problemas em conseguir carregar o móvel para dentro. Já o roupeiro seria outra história, teríamos que levá-lo em partes.  Terminando de posicionar a cama no lugar certo, colocamos o colchão por cima, então finalmente parei para descansar um pouco.

    — Não vou dormir mais no chão. — comemoro aliviada.

    Gabriel sorri e fala.

    — Isso é bom, agora só falta o roupeiro. Vou trazer a parte principal.

    Respirei fundo para recuperar o fôlego e fui ajudá-lo a terminar o trabalho, montar o bendito roupeiro.

    Depois fui até a cozinha e arrumei a mesa, liguei a geladeira. Já tinha armários e pia, além de outras coisas importantes em minha casa. Havia um micro-ondas que poderia ser usado para comidas pré-prontas. Tudo concluído, eu me sentei no sofá, cansada. Já haviam se passado horas, provavelmente um relógio em algum lugar já marcava duas da tarde, meu primo senta se ao meu lado.

    — Aconselho você comprar algo para comer, já está de tarde.

    — Pois é. — Digo, olhando para minha cozinha.

    Rimos juntos, ambos parecíamos cansados, com a respiração desregulada e a pele brilhando de suor. No entanto, algo mais profundo se manifestou dentro de mim, uma atração que eu não conseguia ignorar.

    — Obrigada pela ajuda.

    A tarde iniciou na rua, e eu abri o iFood para pedir comida para nós dois.

    — Relaxa, foi tranquilo.

    Ele lançou aquele sorriso de canto novamente. Meu coração disparou, e meu corpo inexplicavelmente ansiava por um momento íntimo. Respirei fundo, esperando não ter transmitido a tensão que sinto por ele.

    — Bom, eu pensei em encomendar lanche para hoje, já pedi algo e está a caminho, acho que vai levar uma hora para chegar.

    Ele levantou o polegar em sinal de concordância, eu me levanto e vou até meu celular, em busca de alguma mensagem para tentar me distrair do sorriso dele e da tensão palpável no ar, Gabriel interrompe.

    — Eu ia te indicar uma lanchonete mas se tu já pediu, então deixa pra lá.

    Eu o observo. Ele pega o celular e pesquisa rapidamente, depois me mostra a lanchonete, seus cachos adoravelmente cobrindo o rosto quando ele o abaixa para a tela.

    — Pedi comida com hambúrguer artesanal — informo.

    Ele concorda, meio distraído.

    — Olha eu vou tomar um banho, ok? — Deixo meu celular sobre a mesa.

    Eu fiquei tentada a convidá-lo para tomar banho comigo, mas sabia que seria ousado demais, mesmo que estivesse cheia de desejo por ele naquele momento, então me contive.

    — Pensei em tomar um banho também. — Gabriel fala, sugestivo.

    Eu me viro, surpresa pela ousadia que me veio à mente ter partido dele em voz alta.

    — A-agora? C-co-comigo? — Eu gaguejei, sem ação.

    — Eu tomaria um banho depois, mas não me oponho em te fazer companhia. — Os olhos dourados fixam nos meus — Na verdade, seria muito prazeroso.

    Ele ainda sustenta aquele sorriso malicioso, e o tom da palavra "prazeroso" que escapa de seus lábios parece envolvente e sedutor. Eu devo ter exibido um expressão surpresa, pois ele riu suavemente, mantendo aquele ar sedutor. Minha deusa interior ansiava por aceitar a ideia, mas minha consciência interna insistia em dizer não.

    — E-eu acho melhor depois. — Notei que foi algo ambíguo. Depois o que? O banho, certo? Depressa, arrumo as palavras — Quero dizer, você. Você tomar depois.

    Ele mantém o olhar.

    — Relaxa, priminha.

    Com o coração batendo descompassado, peguei minha toalha e calcinha e caminhei até o banheiro. Meus produtos de higiene pessoal já estavam dispostos no ambiente, aguardando minha chegada. Assim que entrei, fechei a porta atrás de mim e comecei a me despir. Liguei o chuveiro, pendurei a toalha e deixei a calcinha sobre a tampa fechada do vaso.

    No meio do banho, ouço batidas na porta.

    — Sim?

    Meu primo responde:

    — Eu gostaria de mijar um pouco.

    O boxe era de vidro escuro, o que significava que ele poderia entrar e me ver nua. No entanto, uma parte de mim, minha deusa interior, ansiava por isso. Com um movimento, virei de costas para continuar meu banho, e ouvi a porta do banheiro se abrir e fechar. Uma sensação de antecipação tomou conta de mim, meus seios se arrepiaram e um frenesi percorreu todo o meu corpo. Minha essência ansiava por aquilo, e eu queria isso mais do que nunca.

    Depois de alguns minutos de silêncio escutei o barulho do boxe abrindo, então senti o hálito quente dele em meu ouvido.

    — Você sabia o que eu queria quando me deixar entrar, não é? — ele sussurrou.

    A voz do meu primo carregava intensidade, repleta de desejo, e eu ecoei no mesmo tom.

    — Sim...

    Senti seus lábios roçando meu pescoço, e ao respirar fundo, o calor de seu hálito me arrepiou. Suas mãos deslizaram pela minha cintura, fazendo meu corpo amolecer, e eu me inclinei em direção a ele, sentindo claramente a tensão entre suas pernas. Seu desejo estava palpável, seu membro rígido e pulsante.

    — Nossa...

    — Você me deixou assim... — ele sussurra ao pé de meu ouvido.

    Eu rebolei com meu quadril encostado no dele, convidando e atiçando mais, não tardou para o mesmo entender o que eu também queria. Ele me virou de frente para ele, buscando um beijo ardente e quente em meus lábios, logo me pegando no colo, minhas pernas emendaram em torno de seu quadril, me deixando exposta para ele, pronta para ceder em seus braços, em sua boca, em seu corpo.

    Sentia seus movimentos, gradualmente tomando posse do meu ser, do meu corpo, e apreciava o prazer que exercia sobre mim. Cada pelo da minha pele se eriçava, e eu gemia alto em seu ouvido, enquanto ele me dominava, amando intensamente cada segundo, cada minuto. O cenário do banho e o banheiro se tornaram apenas um pano de fundo para a nossa diversão.

 

 

 

 

    Dois dias haviam se passado depois daquele momento com meu primo, onde passamos boa parte do dia juntos e após o lanche resolvemos testar por diversas vezes a cama e o colchão. Minha cama nova se provou bem resistente.

    Eram sete horas da manhã. Eu havia acordado cedo e já arrumava minha camisa social e calça jeans para começar a trabalhar na empresa Drummond.

    Me perguntei se por obra do acaso acabaria vendo Gustavo novamente, mas logo balancei minha cabeça me livrando dos pensamentos com ele, voltando ao meu foco para a missão, agora particularmente difícil, de arrumar meu cabelo. No fim, resolvo prendê-lo em uma colinha, e coloco argolas médias em minhas orelhas para disfarçar o cabelo rebelde.

    Estava pronta.

    Então, fui até a minha cozinha e peguei um pacote de pão. Também peguei um copo de vidro e coloquei leite dentro, aquecendo-o no micro-ondas. Da geladeira, tirei meu requeijão e o coloquei sobre a mesa, preparando meu café da manhã. Depois da refeição, coloquei a louça na pia e arrumei a mesa, deixando tudo impecável, já que não voltaria para casa antes das seis horas da tarde.

 

   

 

 

MOMENTOS DEPOIS...

    Ao chegar no trabalho, eu me sentia perdida no meio daquela enorme empresa. Estava sendo apresentada às minhas funções e, nesse momento, fui designada para uma sala de escritório com pouca privacidade, com uma pequena parede de divisória da mesa vizinha, cujo ocupante ainda não sabia quem era. Respirei fundo e olhei para Luiza, a treinadora responsável por me orientar e tirar minhas dúvidas. A mulher aparentava ter por volta dos quarenta anos, exibindo uma aura de seriedade e elegância. Seus cabelos lisos e negros complementavam sua aparência conservada.

    Meu colega de trabalho finalmente apareceu. Assim que o avistei, fiquei paralisada, incapaz de desviar o olhar para qualquer outra pessoa ou lugar. Seus olhos azuis, seu cabelo escuro e seu sorriso encantador familiares me deixaram sem palavras.

    — Então você será minha colega Lorena? — ele disse.

    Ele ainda recorda meu nome? Sei que parece aquele clássico de nerd apaixonada pelo cara mais bonito, mas Gustavo era mesmo lindo. Notando como deveria estar parecendo uma boba olhando para ele, eu desfiz o sorriso e apenas recuperei minha compostura.

    — Cheguei agora. Você está desde a semana passada trabalhando aqui, né?

    Ele mantém seu sorriso lindo e fala:

    — Sim, sim. É isso aí.

    Olhei para cima da minha mesa e vi os papéis com as tarefas a serem feitas. Comecei a lê-los, sentindo o olhar dele ainda sobre mim. Arrisquei espiar de canto de olho e notei que ele virou o rosto, mexendo em suas papeladas. Voltei minha atenção para os meus próprios papéis e o computador. Logo comecei a mexer no computador, pegando a senha que Luiza me passou. Ao inseri-la, tudo deu certo e acessei a área de trabalho, visualizando os arquivos que eu precisaria ler e trabalhar.

    Não percebi as horas passarem, envolvida com o trabalho. Trabalhando na parte de marketing, eu, Gustavo e mais duas garotas dividíamos o nosso canto do escritório. Nós, como assistentes de marketing, éramos responsáveis por desenvolver ideias para resolver questões relacionadas a propagandas, estratégias de marketing e divulgação. Após apresentarmos nossas propostas, Luiza as encaminhava para o CEO, que era o chefe do departamento de marketing e lidava com os problemas mais complexos e as reuniões estratégicas. Ele costumava delegar os problemas mais "simples" para nossa equipe resolver. Naquele momento, eu sabia que ele estava em viagem de negócios, conforme me foi informado, mas Luiza enviaria tudo por e-mail para ele.

    No escritório, havia outras divisões, incluindo os assistentes administrativos, os assistentes de vendas e os assistentes contábeis, cada um ocupando mesas separadas em grupos de quatro pessoas. Enquanto minha mente se afastava da sala, mergulhava no problema em questão: a tarefa de criar uma propaganda para a empresa de lingerie que me foi designada, de acordo a papelada que acabara de ler. Estava concentrada ao máximo até ouvir uma voz que me trouxe para a realidade. Ao meu lado, Gustavo me oferecia um café, seus olhos azuis pousados em mim, me fazendo corar. e eu arrumo a mecha de cabelo que caiu para a frente de meus olhos e digo:

    — Obrigada Gustavo, mas eu não escutei direito o que me falasse? — Arrumo uma mecha de cabelo que havia caído para frente de meus olhos.

    Ele sorriu

    — Eu acredito, você estava tão focada no projeto que fiquei com vergonha de te avisar que agora é o horário do intervalo, almoço.

    Meus olhos se arregalam um pouco, não tinha notado tanto tempo passar. Dei um sorriso meio sem jeito e, grata, aceitei o café que ele me ofereceu.

    — Nossa… eu não percebi, eu estava lendo sobre a visão profissional da empresa e as questões que deviam ser abordadas na propaganda… e... — Bebo um gole do café que estava muito bom por sinal — Nossa, esse café é bom. É da máquina de café?

    — Não, eu fui até a cafeteria da equina, assim como todos os outros colegas. — Gustavo se escora na divisória, desprendido de formalidades.

    Ele olhou ao redor. Acompanhando seu olhar, eu notei que estavam somente eu e ele ali, ou seja, todos entraram em intervalo e eu nem me dei conta.

    — Eu sou um completo desastre social... nossa. — Eu disse.

    Ele parecia estar se divertindo.

    — Não é não, é admirável na verdade, parece uma mulher esforçada e focada. Mas e então, vamos almoçar?

    Eu olhei para ele, surpresa com sua pergunta, e corei.

    — Não se preocupe, é um almoço entre colegas de trabalho. — ele esclareceu.

    Eu acenei afirmativamente, mas minha mente me lançou uma pergunta: se é um almoço entre colegas, porque ele não convidou as outras duas meninas para ir almoçar com a gente também? De qualquer forma, eu não fiz objeções.

    Logo eu e Gustavo estávamos caminhando para fora da sala.

    — Então, viesse de qual cidade mesmo aqui para a capital? — ele perguntou.

    — Pelotas, a cidade do doce. — Eu disse, entre um gole e outro do café ainda quentinho.

    Ele sorriu ao identificar a cidade onde morava, reconhecendo-a após eu mencionar seu apelido. Caminhamos pelo corredor e vi a secretária do CEO cumprimentando-o, seu olhar para Gustavo era como se pudesse devorá-lo com os olhos. Senti uma pontada de inveja ao perceber isso, mas optei por manter o silêncio. Observei-o retribuir o olhar dela e uma onda de ciúme me invadiu, despertando uma raiva contida por vê-lo corresponder. Finjo não sentir nada, até mesmo ignoro o que aconteceu, e então ele voltou seu olhar para mim.

    — Então o que espera conseguir na empresa? Um cargo e um salário ou uma carreira?

    Tentando ao máximo controlar a raiva que sentia, eu disse em um tom que devia soar calma e desinteressada com a conversa, mas, acabou por ser um tom  carregado de irritação.

    — Uma carreira.

    Infelizmente, ele notou minha irritação.

    — Está tudo bem?

    — Claro. — respondi um pouco rápido demais.

    Mentalmente respondi a mim mesma para desconsiderar o fato de que ele comeu com as trocas de olhares a secretária bunduda bem do meu lado.

Gustavo insiste:

    — Você está bem mesmo? — Gustavo insistiu, confuso


— Estou ótima, Gustavo. — Não consegui controlar minha língua — Aliás, se queres tanto passar tempo com a secretária, por que não vai almoçar com ela? Relaxa, eu sei me virar sozinha. Já sou bem grandinha, não preciso de babá.

    Ele parou de andar e arregalou os olhos. Eu segui andando, mas tive meus passos interrompidos quando ele me puxou pelo braço. Não foi um aperto doloroso, mas um aperto firme.

    — Você está com ciúmes de mim?

    Eu corei, ficando mais furiosa pela acusação.

    — Vai se ferrar Gustavo!

    Desvencilhei meu braço de suas mãos e saí de perto dele. Sem saber para onde estava indo, eu o deixei para trás, só querendo me afastar. Caminhei por alguns minutos xingando Gustavo mentalmente, e o triturando a cada passo. Na cafeteria da esquina que Gustavo havia comentado, eu entro e vou direto averiguar os salgados que eles tinham, de repente me dando conta do quanto estava faminta.

    Quinze longos minutos na fila do balcão me renderam três salgados, coxinha e dois pasteis de frango com requeijão. Vi um sanduiche de presunto, queijo, tomate, alface e beterraba e acabei comprando também. Pedi um suco de laranja para acompanhar e para meu pedido não demorou a ser servido na mesa 7. Me sentei e comecei a degustar minha refeição improvisada. Pelo canto do olho, percebi uma movimentação em minha direção, mas a fome era tão maior e eu a ignorei totalmente, até ele sentar se na minha frente.

    Com a boca aberta, pronta para dar uma terceira mordida na coxinha de galinha com requeijão, Gustavo se materializou sentado bem na minha frente, como que para assistir a cena. Ele colocou na mesa uma marmita que provavelmente tinha comprado no caminho e mandado embalar para comer em outro lugar. Também pegou uma latinha de guaraná Fanta.

    — O nome dela é Fátima, e eu e ela, bom, ficávamos as vezes. — ele disse, abrindo a marmita.

    Ele abriu a marmita e revelou uma refeição completa, com batata frita, bife suculento, arroz, alface, tomate e feijão. Observando a variedade de sua refeição, involuntariamente comparei o prato com meus simples salgados. Meu estômago pareceu travar uma batalha interna, repreendendo-me por ter cedido ao ciúme em vez de comprar uma refeição adequada. No entanto, já era tarde demais para remediar a situação. Resolvi continuar devorando a coxinha, na esperança de silenciar os protestos ruidosos e insistentes do meu estômago. O conflito interno que eu enfrentava fez Gustavo sorrir enquanto eu continuava a devorar minha coxinha lentamente, mordida por mordida, até que não restasse mais nada, e então comecei a atacar faminta o sanduíche. Foi nesse momento que ele falou.

    — Se quiser algumas batatinhas, fique à vontade.

    Ele começou a comer, e eu revirei.

    — Não — respondi, decidida.

    Alguns minutos de silêncio e apenas os barulhos de mandíbulas trabalhando enquanto saciam a fome do corpo, vinte minutos depois eu me rendo as batatinha frita, pegando uma ou outra da marmita dele.

    — Eu gosto de você também, Lorena — ele disse, como se estivesse informando a previsão do tempo.

    — Cala a boca ou te atiro uma batatinha — respondi quase em um rosnado entre dentes.

    — Mas é verdade — ele sorriu enquanto protestava.

    — E fica olhando para a bunda alheia? — resmunguei.

Ele sorri e fala:

    — Estamos só nos conhecendo eu e você.

    Nessa hora, eu posso ter ficado vermelha de irritação.

    — Saiba que eu não gosto de homem galinha, Gustavo. Já tenho problemas demais para me preocupar, obrigada, não preciso de mais um.

    Terminei de comer a batatinha.

    Após o almoço, Gustavo e eu deixamos de lado a conversa sobre ciúmes e Fátima, e passamos a falar sobre nossos hobbies e atividades preferidas no tempo livre. Descobri que ambos adorávamos caminhar, andar de bicicleta e outras atividades ao ar livre. Ele aproveitou a deixa e me convidou para um passeio de bicicleta no sábado.  Tentando protestar para mudar o horário, sem sucesso, concordei em encontrá-lo às dez horas da manhã de sábado.

 

 

 

 

DIAS DEPOIS...NO SÁBADO

    Finalmente o sábado chegou, mas fui enganada pela minha ansiedade. Acostumada a acordar às dez horas, eu já estava desperta desde as oito da manhã. Deitada, me revirava na cama, bagunçando as cobertas sem necessidade. Olhei para o celular e vi que eram nove horas. Decidi me levantar e sair da cama. Depois de tomar um banho rápido, coloquei uma legging preta e uma regata branca de alcinha, aproveitando o dia mais quente, com cerca de dezoito graus (para um gaúcho ou gaúcha já era considerado um dia quente, um dia de primavera). Calcei meus tênis de educação física e prendi meu cabelo em um rabo de cavalo alto. Estava pronta.

    Mandei uma mensagem para Gustavo.

 

EU:

Estou pronta e você?

 

GUSTAVO:

Eu já estou te esperando aqui.

 

    Ao ler a mensagem dele, eu imediatamente respondi, dizendo que estava a caminho. Na realidade, porém, eu estava acabando de sair de casa. Desci as escadas e cumprimentei Beatriz, que como sempre estava na recepção. Ao sair pela porta da garagem, peguei minha bicicleta, adquirida durante a semana para economizar nos custos diários com Uber para o trabalho. Com o Google Maps aberto o tempo todo, segui em direção à praça Itália. No caminho eu sigo o mapa do celular com cautela devido aos assaltos. Temia muito perder meu celular, porque não teria dinheiro para comprar outro.

    Chegando lá, fui envolvida pela beleza deslumbrante da praça. O local era encantador, com um belo gramado e luminárias que, embora estivessem apagadas devido à luz do dia, ainda acrescentavam um toque de charme ao ambiente. Desci da bicicleta e me aproximei da ponte que se estendia de um lado a outro, caminhando e absorvendo a paisagem ao meu redor. Sentia a brisa suave acariciar meu rosto enquanto a roda da bicicleta girava suavemente ao meu lado. Segurando firme no guidão, eu apreciava cada momento, atravessando vagarosamente a ponte e respirando o ar puro do local. Ao longe, avistei Gustavo, que parecia absorto em seu celular e não havia me notado.

    Um sorriso discreto se formou em meus lábios ao vê-lo. Sua vestimenta, que lembrava a de um bad boy motoqueiro, me surpreendeu, mas optei por não julgar, uma vez que estava acostumada a vê-lo sempre trajando roupas sociais. Embora surpresas assim fossem bem vindas, a personalidade dele nunca me fez imaginar que ele usaria uma jaqueta de couro escura e uma camiseta branca justa que realçava seu peito, tornando-o notavelmente mais atraente. As calças jeans surradas, ajustadas em seu quadril, quase me deixaram sem fôlego. Decidi me aproximar.

    — Nossa, vestido dessa forma nem parece o Guto que eu conheço — gesticulei para as roupas dele — Onde está sua bicicleta?

    Ele interrompeu sua atenção ao celular e ergueu seus olhos azuis em minha direção, lançando um olhar charmoso e sedutor que me deixou corada e paralisada. Gustavo nunca havia flertado comigo dessa maneira, pelo menos não desde que começamos a almoçar juntos esta semana. O que estaria acontecendo com ele? Ele parecia tão diferente. Claro, diferente de um jeito bom, que me fazia sentir viva e arrepiada. Ao passo que eu tentava processar esses pensamentos, uma terceira voz, que parecia ser de Gustavo, ecoou em meus ouvidos.

    — Na verdade... eu sou o Gustavo. Queria apresentar vocês, mas, parecem que já estão se conhecendo.

    Com um salto quase desajeitado, olhei para trás e quase caí, minha bicicleta inclinando para um lado e eu para o outro. Antes que pudesse tocar o chão, Gustavo me segurou em seus braços, enquanto o outro rapaz pegava minha bicicleta, evitando que ela caísse. Olhei de um para o outro e minha mente começou a girar com a situação. Ele tinha um irmão gêmeo?

 

 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Resenha do Filme Star Trek- Sem Fronteiras

     Star Trek       Sem Fronteiras      Sinopse:  Após sofrerem com a ira de John Harrison (Benedict Cumberbatch), Kirk (Chris Pine), Spock (Zachary Quinto), Uhura (Zoe Saldana), McCoy (Karl Urban), Sulu (John Cho), Chekov (Anton Yelchin) e Scotty (Simon Pegg) retornam à Enterprise para uma nova e difícil aventura intergaláctica.   É extremamente incrível o quanto este filme sempre nos surpreende, embora sempre iremos saber a base do filme, que sempre existirá um inimigo e uma missão suícida, é incrível como mesmo assim o filme nos passa emoção e adrenalina sem o mínimo de econômia nas doses.Então Vamos começar?   Sei que todos já conhecem o Capitão Kirk, mas é admirável a sua coragem e ousadia em resolver e se sacrificar pela sua tripulação da interprise,mas, desta vez é um pouco diferente.No inicío do filme a federação recebe um pedido de ajuda de uma dita capitã, ela conta que sua nav...

DEGUSTAÇÃO- O JOGO DO AMOR

      Conheça a obra O JOGO DO AMOR, da autora Jéssica C. da Silva. Em breve ocorrerá o pré lançamento do livro que será publicado através da editora CARAVANA. O JOGO DO AMOR: CAPÍTULO 1          Havia chegado há poucas horas em Porto Alegre, a capital do estado do Rio Grande do Sul, uma cidade gaúcha. Recém formada na faculdade, eu iria começar meu trabalho na empresa Drummond, uma empresa de marketing bastante requisitada, muito bem conhecida na cidade e no estado. Meu celular vibrou em meu bolso, de onde o retirei com pressa para ver o horário. Haviam mensagens não lidas de meus pais, ignoradas até então por pura falta de tempo. Agora, com minha mala e bolsa de viagem comigo, me afastei para um canto do aeroporto onde teria mais privacidade para visualizar as mensagens.   MÃE: Oi filha, eu e teu pai falamos com teu tio que trabalha como taxista em Porto Alegre, ele vai te dar uma carona. Mesmo assim, pague ele com o valor que deixamos...

Resenha e crítica da obra Darius- Uma lenda forjada em sangue

                    RESENHA: DARIUS - UMA LENDA FORJADA EM SANGUE       A resenha de hoje é sobre a obra Darius- Uma lenda forjada em sangue escrito pelo autor Floren. O autor é brasileiro morador de Recife, e seu nome é Miguel, porém ele usa como seu nome artístico , Floren.        Seu livro é uma auto publicação, é um livro digital que só pode ser obtido através do contato do autor.        O livro tem treze páginas, sendo considerado um conto, com um toque de gênero épico devido ao personagem principal que é identificado como um personagem épico  e plano, sempre sendo o herói e tomando as decisões corretas. O conto relata dois tempos, o antes do nascimento de Darius e depois do nascimento dele, de forma resumida conta sobre a vida do herói. No inicio o conto busca trazer um pouco de mistério quando apresenta os pais de Darius recebendo revelações de sacerdotisas e sonhos de cl...