O JOGO DO AMOR:
CAPÍTULO 3
Após o constrangimento e susto que causei,
ouço ambos rindo de mim. Suas risadas pareciam formar uma melodia em meus
ouvidos, o que, de alguma forma, me ajudou a recuperar a compostura e me
desvencilhar dos braços de Gustavo. O irmão dele respondeu com um sorriso
charmoso no rosto.
— Prefiro motos, querida. Só vim acompanhar
meu irmão. — o irmão respondeu, com um sorriso charmoso no rosto, idêntico ao
de Gustavo
Gustavo parou de rir e passou a mão pelos
cabelos. Sua vestimenta era mais simples que a de seu irmão, com uma bermuda de
abrigo cinza, regata branca e tênis de educação física. Seus braços eram bem
definidos e atraentes, e sua regata não marcava seu peito, mas era evidente que
havia um certo volume ali, indicando um peitoral bem desenvolvido.
— Esse é Victor, meu irmão, e... essa é
Lorena, minha colega do trabalho — ele começou a falar.
Victor me olhou da cabeça aos pés, as íris
azuis brilhando com um pingo de segunda intenção. Ele se aproximou de mim cheio
de charme e beijou minha bochecha, exatamente como irmão havia feito ao se
despedir no carro de meu tio. Sua mão acariciou de leve minha cintura, de uma forma
que me causou certos arrepios. Busquei não demonstrar ter sentido uma tensão
por ele no momento. Ele se afasta.
— Eu vou indo. —Ele se afastou — Bom
passeio para vocês. Vejo você mais tarde?
— Acho que sim, né? — Gustavo responde.
Gustavo me olhou, deixando claro que estava
me convidando para ir com ele. Eu estava tão confusa, minha mente ainda se
recuperava da aproximação sedutora de Victor sobre mim, sem contar que o cheiro
do perfume amadeirado dele ainda pairava em minhas narinas.
— Sim — respondi, movendo os lábios como se
estivesse sob efeito de hipnose.
Murmurando em afirmação, Victor partiu.
— Ele te deixou sem jeito mesmo, não é?
Eu encaro Gustavo, corada e levemente irritada.
— Ele parece mais safado que você, isso sim
— respondi querendo mudar de assunto e fui até minha bicicleta que o irmão dele
deixou encostada em uma árvore próxima. — Onde está sua bicicleta?
Gustavo solta outra risada. Parecia que eu
tinha virado uma piada para eles.
— Eu pego a bicicleta pública. — ele fala
depois de se recompor.
Com isso ele começa a caminhar e eu
acompanho ele, pela calçadinha de cimento que se estende a nossa frente, digo:
— Onde, exatamente, vamos encontrar seu
irmão hoje mais tarde? Já que mencionaram.
Gustavo avistou um grupo de bicicletas
públicas e sugeriu que as utilizássemos. No caminho, ele mencionou uma festa
que estava planejada para a casa de um amigo de seu irmão. Enquanto imaginava o
que nos aguardava, pensei em uma festa simples, com pessoas bêbadas, cerveja,
conversas superficiais - coisas típicas de jovens que estavam ingressando no
mundo dos adultos. Em seguida, assenti, aceitando o convite.
Ele se aproximou de uma das bicicletas
amarelas, desbloqueando-a para uso público. Pegou o celular e escaneou
rapidamente o QR-Code, enquanto eu continuava a falar:
— Você mora longe daqui? — continuei.
— Em um bairro aqui perto. — Gustavo aponta
em uma direção que eu não fazia ideia de onde ia dar.
Eu desconhecia o mapa da cidade, o que me
deixou perdida em relação à localização exata de sua casa. No entanto, naquele
momento, isso não parecia importante, já que eu estava mais interessada em
iniciar uma conversa para conhecê-lo melhor e aproveitar nosso passeio juntos.
Logo, ele encontrou um assunto para compartilharmos, e Gustavo falou.
— Então, aquele taxista daquela vez é um
parente seu ou só conhecido?
— Sim, meu tio, fazia muitos anos que eu
não via ele e nem a família dele — respondi. — Tens parentes por aqui, Guto?
Falei o apelido que havia dado a ele em
segredo de forma tão natural. Assim que percebi o impacto das minhas palavras, fechei
a boca e corri para subir em minha bicicleta. Ele fez o mesmo.
— Sim — Ele quebrou o silêncio segundos
depois — Mas então, eu gostei do apelido.
Ele parecia desconfortável em discutir
assuntos pessoais, o que me deixou um pouco incomodada, mas acabei relevando.
Decidi não insistir no assunto para não parecer chata, e assim começamos a
pedalar. Ele me pediu para segui-lo, e eu permiti que ele tomasse a dianteira,
orientando-me para onde ir.
Confesso
que estava curiosa para descobrir para onde exatamente ele planejava me levar,
mas no caminho, fiquei encantada pela paisagem. A grama bem cuidada e
verdejante, as árvores projetando sombras convidativas e refrescantes - tudo
isso me fez sentir feliz, plena e iluminada. Os raios de sol acariciavam meu
rosto e aqueciam minha pele de forma deliciosa. Após pedalarmos por bons e
longos minutos, deliciosamente agradáveis, ele finalmente parou de andar. Nossa
distância atual era de apenas um metro, e quando ele parou, eu também parei de
pedalar. Percebi que estávamos em frente a uma casa de sucos naturais. Eu não
era fã de frutas, mas decidi não estragar o momento. Assim que descemos das
nossas bicicletas, as colocamos no suporte que encontramos na rua em frente à
casa de sucos, e então entramos no local.
— Você gosta de frutas? — perguntei. — Acreditas
naquele mito?
Ele olha me e responde a primeira pergunta
tranquilamente, mas, ele fica confuso com a segunda pergunta:
— Sim, eu gosto. — Ele franziu as
sobrancelhas. — Qual mito?
Fiquei corada quando ele não entendeu o
assunto que mencionei, pois explicar sobre seria no mínimo constrangedor. Todos
sabem que havia um ditado popular sobre homens que consumiam frutas, sugerindo
que seu esperma se tornava mais doce por conta da alimentação. Minha intenção
era fazer uma piada sobre isso, mas parece que a situação não favorecia o
humor.
— Ha...ha... Deixa para lá... então, qual
suco me r-recomenda? — gaguejei.
Gustavo e eu passamos uma tarde agradável
saboreando sucos: ele de limão e eu de abacaxi com hortelã. O clima não estava
excessivamente quente, mas também não estava frio, o que nos permitiu desfrutar
o momento. Conversamos animadamente sobre a cidade e os lugares favoritos de
Gustavo, aqui na cidade para a qual eu me mudei. Descobri que ele era nascido
no Rio grande do Sul, mas a família dele fez um bom mercado nas cidades sudeste
e central do Brasil, como Rio de Janeiro e São Paulo. Com doze anos ele foi
morar no Rio de Janeiro, e agora tinha voltado para o Rio Grande do sul para
trabalhar.
Conversamos sobre ele e a secretária do CEO
de marketing da empresa. Ele mencionou que já a conhecia antes e que
ocasionalmente se envolviam, mas nada sério.
— Você sabe que mulher não é tão assim, né?
— comentei. — Dependendo do tempo que vocês estão juntos, é certo afirmar que
ela sente algo por você, e se ela nos ver, olha... vai dar ruim.
Estávamos retornando para as bicicletas.
— Ah, é? Então isso é um encontro? — ele comentou de uma forma ousada, com um toque
de animação. — Ela então está certa em
sentir ciúme?
Eu revirei os olhos. No trabalho, Gustavo
disse para uma de nossas colegas de trabalho que eu havia aceitado sair em um
encontro com ele. É claro que eu neguei, disse que era um passeio entre amigos,
sempre fui muito tímida nessa parte da vida.
— Me poupe, Guto... mas depende. Se você se
comportar....
Nós dois sorrimos, tirando nossas
bicicletas.
— Então, qual nosso próximo destino agora?
— Siga-me. — é tudo que ele diz.
Ele começou a pedalar e eu o segui de
perto, mantendo uma distância de cerca de um metro. Sinceramente, eu estava
apreciando o tempo que passávamos juntos. A paz que ele transmitia, suas
provocações que me irritavam, e sem que eu percebesse, esses pensamentos
arrancaram um sorriso de mim. Eu realmente estava sorrindo sozinha.
Sem
perceber, escutei as palavras de Gustavo, olhei para o lado e vi que ele havia
parado, quase ultrapassando-o sem perceber. Parei de pedalar ao seu lado,
surpresa por ter me distraído tanto.
— O que você está pensando aí? Compartilhe
comigo essa felicidade.
Eu então
olho para ele e digo:
— Gosto dessa paz e tranquilidade que
estamos tendo agora. Estou gostando de passar este tempo contigo.
Ele sorriu.
— É reciproco, por mais que você se irrite
as vezes.
Eu encarei seus olhos azuis, que
nitidamente me provocavam
— Você me provoca.
Seu olhar permaneceu fixo no meu, e eu não
conseguia desviar por um segundo sequer. Desejava seu beijo intensamente, e ele
sabia disso, pois havia uma conexão especial entre nós naquele instante. Enquanto
as pessoas passavam apressadas pela calçada, era como se não estivessem ali;
parecia que só existíamos eu e ele, imersos em nosso próprio momento. Estávamos
debaixo de uma árvore na calçada, havíamos parado de pedalar e estávamos muito
próximos um do outro. A distância entre nossos rostos parecia diminuir a cada
instante, eu ansiava por seu beijo. O vento nos tocava, acariciando nossos
cabelos, e nossos narizes se tocavam suavemente. Desviamos nossos rostos, mas a
distância entre nossos lábios diminuía gradualmente, até que ouvimos:
— Nossa, casal de filmes? Sério?
Nossa atenção foi roubada bruscamente por
uma terceira pessoa, o irmão de Gustavo, Victor. Ele apareceu do nada,
apontando para sua moto, onde havia uma mulher loira alta e bonita. O sorriso
dela era intenso e alternava entre Victor e Guto. Estava com um short curto e
uma blusa regata menor ainda, expondo a barriga definida. Um decote exagerado
mostrava bastante da pele bronzeada dos seios fartos.
— Então, vamos? — Victor chamou.
Encarei os dois, confusa.
— Achei que a festa seria mais tarde.
— E será. Só estou chamando você para sair,
comigo e com a... — Ele se virou para a mulher na moto. — Débora?
— Manuela, gato! — Manuela corrigiu.
Eu segurei meu riso, achando graça do fato
de que ele nem sabia o nome dela.
— Tudo bem... — Gustavo ao meu lado parecia
estar incomodado com a situação. — Tudo bem, né?
— Claro — ele fala dando um sorriso meio
forçado.
Me
preparei para subir em minha bicicleta para começar a pedalar, mas Victor
interrompeu.
— Eu te dou carona, Lorena. — Ele deu
tapinhas carinhosos na moto. — Sobe aqui.
Manuela abriu a boca, chocada.
— E eu?
— Você sabe andar de bicicleta, não sabe? —
Victor perguntou no tom mais doce e inocente do mundo.
Ele a olha com seriedade, sem demonstrar
emoção alguma. Ela retribui o olhar, claramente incomodada, antes de descer da
moto dele com irritação e empurrá-lo a mesma acaba por sair dali. No entanto,
sua ação parece não surtir efeito algum nele, pois logo em seguida ele volta
seu olhar para mim e me convida a subir em sua moto.
— É que a bicicleta é minha mesmo, não é
alugada, então... não posso largar minha bicicleta por ai.
— Meu irmão está com uma bicicleta alugada,
ele pode usar a sua… claro, se você quiser.
Gustavo claramente não estava gostando
daquilo. Ele respirou fundo e levou a bicicleta alugada para junto das outras, então
veio até mim e perguntou se podia pegar.
— Na verdade… aceito a carona do Guto. —
falei pensativa, considerando se ficaria chateado caso eu escolhesse o irmão
dele.
Tanto Gustavo quanto Victor ficou surpresos
com a minha escolha. No caso de Victor, não pude deixar de imaginar quantas
vezes ele havia sido recusado na vida, ou se isso já havia ocorrido.
— Relaxem, rapazes. Parece que viram um
fantasma.
Dei uma risada sincera da carinha espantada
deles e esperei Gustavo pegar a minha bicicleta. Me acomodei no ferro entre o guidão
e o corpo dele, sentindo o calor
— Cuidado as pedras do caminho, não quero
ficar com a bunda toda dolorida.
— Sim, senhorita. — Gustavo levou dois
dedos à testa, fazendo uma espécie de continência.
— Se você fosse de moto, não teria esse
problema — Victor comenta, mais sério que antes.
— Lamento, mas meu amigo ficaria chateado
comigo, e eu gosto de zelar por minhas amizades.
Ele ficou sem palavras, seu olhar irritado exibindo
um certo brilho, fixos nos meus. Ele sorriu e colocou o capacete.
— Espero vocês lá.
Gustavo assentiu, agora com um olhar suave
e tranquilo, mais relaxado que antes. Victor dá partida na moto canta pneu para
longe.
— Você é única — Gustavo disse, observando
a figura do irmão ficar mais e mais distante na rua.
Feliz com o elogio, eu dei de ombros.
— Só estou escolhendo fazer o que é certo.
— Então se segure.
Ele começou a pedalar e eu quase caí, mas
acabei rindo muito e me agarrando ao guidão da bicicleta. Gustavo riu de mim, e
eu senti vontade de dar um tapa nele por quase me derrubar, mas não pude soltar
o guidão.
MOMENTOS
DEPOIS...
Chegamos ao local combinado pelos irmãos,
na Praia do Lami. Poucas pessoas estavam presentes, no início da noite, ainda
com uma certa claridade do dia, o fim do pôr do sol. Desci da bicicleta e corri
em direção à beira da praia, até onde era seguro devido às ondas. O pôr do sol
era divino, e eu rapidamente peguei meu celular da bolsa para capturar o
momento. Parada, admirando a paisagem, percebi que havia alguém sentado na
areia, também contemplando o espetáculo do pôr do sol. Aquela pessoa estava
mais recuada, onde as ondas não a alcançavam. Não me dei ao trabalho de olhar
para ver quem era, pois todo meu foco pertencia ao espetáculo que a natureza
apresentava. As avaliações dos outros viajantes sobre o local não eram exagero;
tudo era real.
Permaneci em silêncio, desfrutando do
renovo que a energia local me trouxe.
— É divino, não é?
Olhei para trás e vi Victor, vestindo
apenas calças jeans, sentado no chão de forma despojada, sem sua blusa, jaqueta
ou sapatos. A princípio, não havia percebido que ele era a pessoa ali sentada,
até que ouvi a voz de Guto, que disse:
— Eu e meu irmão sempre gostamos de vir
aqui para assistir ao pôr do sol. Nos deixa...
— Recarregados — Victor completa.
Após olhar de um para outro acompanhando
suas falas, eu busquei ver o que restou do pôr do sol.
— De fato.
Senti os olhares deles dois recaírem sobre
mim, mas, naquele momento, eu realmente não me importava muito. Estava plena e
me sentia flutuando.
Em seguida, sentei-me no chão de areia, com
Victor à minha direita e Gustavo à esquerda. Ficamos em silêncio por um tempo,
os três em perfeita sintonia, desfrutando da calma e da paz.
Foi Victor quem acabou quebrando o silêncio.
— Então você trabalha com meu irmão?
— Sim. — respondi no automático, sem olhar
para ele.
Os irmãos trocaram alguns olhares, mas,
quando eu me virei para conferir, eles se voltaram para a água.
— Está tudo bem? — Fiz menção a me
levantar. — Olha se eu tiver atrapalhando eu...
A mão de Victor me puxou por um lado e a de
Gustavo pelo outro.
— Não vai — ambos disseram em uníssono.
Eu parei no meio do movimento, meio
agachada, meio de pé. Terminei me sentando outra vez.
— Tudo bem. Aliás, eu tenho que me arrumar,
né?
— Não se preocupe com isso. — Victor fez um
gesto de dispensa.
Eu olho
para ele e digo:
— Se a festa não tiver exigências, então ok.
Ainda assim, preciso de um banho.
— Passamos em meu apartamento no caminho —
Gustavo ofereceu.
— E usar a mesma calcinha e sutiã? Eu não
sou porca não, guri.
Eles dois caíram na risada.
— Relaxa no caminho compramos algo — Victor
disse.
Eu ainda
irritada digo:
— Eu tô pobre ainda, não posso sair
gastando, tchê!
Gustavo não conseguia falar mais nada ele
apenas ria, nesse momento.
— Nós compramos para você.
Com meu orgulho ferido, bati de leve o
ombro no dele.
— Primeiro: sou pobre, não mendiga, ou
seja, ninguém precisa me comprar as coisas. Segundo: é intimidade demais sair
comprando lingerie para mim, não sei qual o tipo de garotas vocês saem
conhecendo, mas eu não sou assim.
— Isso é fato, você é bem diferente. —
Victor disse — Engraçada, espontânea, uma mulher única.
Fiquei parada, calada tentando entender se
tinha mais naqueles elogios do que a expressão indiferente do rapaz deixava
transparecer.
— Eu te deixo em sua casa, então. Quando
estiveres pronta me ligue e eu te busco.
Ele me estende a mão, pedindo meu celular
para anotar seu contato. Ficamos mais algum tempo sentados, os três admirando os
raios residuais do pôr do sol. Quando o show termina, fui a primeira a me
reerguer.
— Acho que posso ir de bicicleta para casa,
mas vou te ligar para me buscar. — eu disse para Victor.
— Você sabe o caminho para voltar para sua
casa? — perguntou, preocupado.
Eu balancei a cabeça. Não tinha prestado
tanta atenção para decorar o trajeto.
— Não.
A ideia de depender de um deles para me
levar não me agradou. Sempre fui independente em vários aspectos, me acostumei
a não precisar incomodar os outros com certas coisas. Mas ainda era melhor
engolir um pouco o orgulho do que ficar perdida em ruas desconhecidas.
— Ok, parece que vocês ganharam. — Respirei
fundo — Vou querer a carona.
Me virei para Guto.
— Cuide da minha bicicleta, ok?
Ele deu um sorriso tranquilizador.
— Pode deixar.
— Você gosta mesmo dessa bicicleta, hein? —
Victor comentou, se divertindo.
Olho
para ele e digo:
— É
o meu único meio de transporte aqui.
— Eu posso te dar carona mais vezes. — Ele finge
estar analisando as próprias unhas.
— Não gosto de me sentir dependente de
alguém. Gosto de ter minha liberdade e independência de fazer as coisas.
Minhas palavras eram sinceras, mas eu devia
reconhecer que naquele momento estava necessitando de ajuda. Não tinha muitas
escolhas.
Victor, apesar disfarçar melhor que o irmão,
tinha um certo ar de admiração no rosto. Gustavo carregava em seu olhar um ar
curioso e interessado. Notando isso comento em um tom de brincadeira:
— Nossa, rapazes, dessa forma ficarei
constrangida. — Brinquei.
Ambos riram e Victor tomou a frente se
levanta e logo se prepara para me levar de moto para a minha casa.
Enquanto
esperava por Victor, lutei contra o volume dos meus cachos por 30 minutos antes
de subir na moto.
MOMENTOS
DEPOIS...
Eu estava pronta, impecável, com um banho
tomado, salto preto, vestido vermelho justo ao corpo e maquiagem perfeita. Meus
cachos caíam em cascatas sobre meus ombros enquanto eu pegava minha bolsa e
ligava para Victor, pedindo para ele vir me buscar.
No meio-tempo aguardando, lutei contra o
volume de meu cabelo, tentando mantê-lo no lugar. Escutei alguém bater na porta
de minha casa mais ou menos trinta minutos. Ao abrir, Victor estava ali, me
observando desde o alto de minha cabeça até a ponta de meus pés, me comendo com
os olhos. Para mim, a sensação não foi das mais desagradáveis.
Sorri de leve, fingindo não notar seu olhar
sobre mim. Seria um problema e descobrir que me causava borboletas no estômago.
Victor
fala em um tom sincero, sem charme, que eu não havia escutado ele usar antes:
— Você está linda, Lore. — o tom dele é
sincero, o mais sincero que já o vi usar.
Aquilo amoleceu um pouco meu coração.
— Vic… posso te pedir uma coisa?
Nossos olhares se encontraram, paralisados
um no outro. Tomei o silêncio como um “sim” da parte dele.
— Seja sempre sincero comigo, ok? Não me
trate como você trata essas suas “amigas”.
— Normalmente a verdade dói — ele
argumentou.
— Errado, o engano, a mentira dói mais, faz
estragos maiores.
Ele refletiu por um tempo, mas não
contrariou minhas palavras. Me ofereceu seu braço para que eu encaixasse o meu e
saímos juntos.
— O que Gustavo falou quando pediu isso
para ele?
Fiquei meio sem jeito. Era errado sentir
algo mais forte por Victor sendo que passei a semana flertando o irmão dele?
— Eu não pedi isso para ele... — respondi.
— Por que? — Victor perguntou, curioso.
Seu olhar buscou o meu de uma forma ardente
e desviei o rosto, dizendo a mim mesma que se eu ousasse retribuir, eu o
beijaria ali mesmo, ou até mesmo me entregaria para ele ali naquele instante.
Eu sentia algo intenso entre nós dois, uma conexão estranha, porém boa, algo
que não havia sentido com Guto.
— Não foi necessário ainda, ele me pareceu bem
sincero até agora.
Puxei ele comigo antes que o clima ficasse
mais intenso e algo acabasse dando errado ali.
Fomos para a moto e parei de andar, de
repente preocupada com o fato de ter me esquecido um detalhe: ele veio de moto
e eu estava de vestido curto.
— Eita droga... — resmunguei.
Ele foi rápido em concluir o motivo do
resmungo. Tirou a jaqueta de couro e me entregou calmamente.
— Toma, coloca amarrada na tua cintura e a
parte das costas para a frente, vai te ajudar. Como você deixou bem nítido,
você não é como aquelas minhas amigas.
Boquiaberta, eu aceitei a jaqueta.
— Obrigada... você deve fazer isso com
todas, né?
Ele se aproximou de mim a passos lentos e graciosos,
como um animal selvagem certo que tinha encurralado a presa.
— Na verdade — ele sussurrou no pé de meu
ouvido. — As outras não chegam aos seus pés.
Eu revirei os olhos para ele, nossos rostos
a centímetros um do outro. Os pelos de minha pele arrepiam, mas não me deixei
levar pelo lindo tom e o azul de seus olhos me encarando, nem pelo semblante
charmoso, ou os lábios bem desenhados.
— Essa frase é muito clichê, do tipo que se
encontra em figurinha de chiclete, Vic.
Respirei fundo, enchendo meus pulmões com
aquele perfume, sem desgrudar meus olhos dos dele. Amarrei a jaqueta em minha
cintura da forma como ele me orientou e virei para a moto. Meu corpo estava
quente, cedendo mais do que eu gostaria às investidas de alguém que não era
Gustavo.
Ele subiu na moto e a ligou, ele olha me
convidando me para subir atrás dele. Segurei firme em sua cintura. Na verdade,
foi uma benção que ele não pudesse ver minha expressão.
O local da festa era como uma mansão saída
de um filme norte-americano, com as estrelas embelezando ainda mais o ambiente.
A música pulsante e as luzes coloridas criavam a ilusão de estar em uma
residência de alguém extremamente abastado. Mulheres deslumbrantes desfilavam
com vestidos prateados, dourados e de outras cores, alguns decotados, outros
curtos, todos deslumbrantes. Minha autoestima vacilou ao vê-las, embora nada
tenha ficado visível em meu rosto.
Eu me sentia deslocada ali, e as mulheres
olhavam para mim e para Victor com olhares pouco amigáveis. O local era
deslumbrante, com paredes brancas e o primeiro cômodo que entramos era uma sala
com um hall de entrada de piso de madeira e uma pequena escada de dois degraus,
sem corrimão. Descemos e na sala havia um coquetel à direita, próximo à parede,
com as luzes em tons de azul, criando uma atmosfera única. Havia pelo menos dez
pessoas desconhecidas ali, umas no sofá, outras em volta da mesa do coquetel. A
pista de dança era mais ao fundo. Do lado esquerdo havia uma escada de corrimão
de vidro que levava para o andar acima.
Olhando para cima eu vi Gustavo, escorado
no parapeito do corredor de cima observando a festa abaixo. Quando me viu, ele
sorriu e se encaminhou para descer as escadas.
— A melhor parte está perto da piscina. —
Victor informou. — Tem a pista de dança lá na rua e muita gente maluca.
Vendo Gustavo se aproximando, ele saiu de
encontro à mesa de bebidas e legou dois coquetéis. Gustavo me cumprimentou com
um beijo no rosto e me segurou de leve pela minha cintura.
— Estou feliz que você veio.
Ele segurava uma taça elegante em uma das
mãos.
— Só por causa minha?
Apontei com o queixo para a secretária do
CEO que também estava lá.
— Sabe, você já viu esse CEO alguma vez?
Todo tempo que estivemos lá ele não colocou o nariz para fora da sala, parece
até aqueles chefes metidos. Nem conheço ele, mas, já odeio.
Escutei uma risada curta e rouca. Victor
estava atrás de mim ele me dando um coquetel enquanto levava o outro à boca.
— Você já odeia, é? — Ele tomou um gole.
— Uma pessoa que não se apresenta aos seus
colegas de trabalho, principalmente sendo o líder, não parece ser tão legal. Penso
que um líder cuida de sua equipe, e não apenas dá ordens. E este lance de
viagem, ele tá viajando tempo demais.
Senti novamente aquela sensação deles dois
se entreolhando, trocando informações. Igual a antes, eles pararam quando viam
que eu havia notado. O que eles dois estão escondendo?
— De quem é essa casa? — eu disse, analisando
o ambiente ao redor. — Tipo, eu estou de penetra aqui, não me sinto tão à
vontade assim.
Com isso tanto Victor quanto Gustavo ficaram
em silêncio, e minha atenção foi roubada quando vi um rapaz entrar pela porta
dos fundos, onde estaria a piscina e a pista de dança. Meu primo… sim, eu vi meu
primo Gabriel entrar por ali.
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