Análise do conto : A Silhueta de Costas.
Análise do conto : A Silhueta de Costas.
Eu fui monitora de seis alunas chinesas que estiveram estudando na UFPel através do intercambio. Com isso, pude compartilhar com elas a cultura do Brasil e elas também me presentearam com sua cultura, foi uma experiência esplêndida.
Na troca de conhecimento elas compartilharam um conto chinês, "A Silhueta de costas" escrito pelo autor Liu Xiang. A oficina que ministrei naquela quarta , falava sobre o tempo da narrativa , sobre o leitor modelo e sobre a ficção como simulador de mundo, conceitos nos quais estava trabalhando com elas naquele dia, e baseado nesses conceitos irei realizar essa análise, mas antes, eu apresento á você leitor está obra:
"A Silhueta de Costas" – Tradução
Faz mais de dois anos que não vejo meu pai, e o que mais me marca é a imagem de suas costas.
Naquele inverno, minha avó faleceu e meu pai perdeu o emprego — dias em que as desgraças não vinham sozinhas. Eu fui de Pequim para Xuzhou, com a intenção de acompanhá-lo no funeral. Ao chegar e vê-lo no meio da bagunça no quintal, lembrei de minha avó e não pude conter as lágrimas. Meu pai disse: “As coisas já aconteceram assim, não fique triste. O céu nunca fecha todos os caminhos para as pessoas.”
Voltamos para casa, vendemos alguns bens e ele pagou as dívidas. Ainda pediu dinheiro emprestado para realizar o funeral. Nesses dias, a situação em casa estava bem difícil — tanto pelas despesas do luto quanto por ele estar desempregado. Após o enterro, ele decidiu ir a Nanjing em busca de trabalho e eu voltaria a Pequim para estudar. Viajamos juntos até Nanjing.
Chegando lá, um amigo o convidou para sair e ele aceitou, ficando um dia a mais. No dia seguinte, logo de manhã, eu deveria cruzar o rio para Pukou e pegar o trem para o norte à tarde. Como ele estava ocupado, combinamos que não me levaria à estação — pediu a um camareiro conhecido da hospedaria que me acompanhasse. Deu várias instruções a ele, muito meticuloso. Mas no fim, meu pai ficou inquieto, desconfiando que o camareiro não cuidaria bem de mim. Hesitou um pouco. Na verdade, eu já tinha vinte anos, e já havia feito a viagem a Pequim algumas vezes — nada de mais. Mesmo assim, ele decidiu me acompanhar. Eu insisti para que não fosse, mas ele disse apenas: “Não se preocupe, é melhor eu ir.”
Cruzamos o rio e entramos na estação. Eu comprei o bilhete, e ele se ocupou com as bagagens. Como eram muitas, precisou dar uma gorjeta aos carregadores. Ele discutia com eles o preço — eu, naquela época, me achava esperto demais, sempre achando que ele falava de forma desajeitada, e queria intervir. No fim, ele acertou tudo sozinho. Me levou até o trem, escolheu um assento perto da porta, e eu arrumei ali o casaco roxo de lã que ele mesmo tinha feito para mim. Disse para eu ter cuidado na viagem, ficar atento à noite, e não passar frio. Pediu também ao camareiro que cuidasse bem de mim. No meu íntimo, achei graça daquele zelo todo — eles só se importam com dinheiro, pensei, não adianta pedir isso. E, afinal, eu já era bem crescido, sabia me cuidar. Hoje vejo que, naquela época, eu era esperto demais para o meu próprio bem.
Eu disse: “Pai, pode ir agora.” Ele olhou para fora do trem e respondeu: “Vou comprar umas laranjas. Fique aqui e não se mova.” Vi que do outro lado da plataforma havia alguns vendedores. Para chegar lá, era preciso atravessar os trilhos: descer e subir do outro lado. Meu pai era um homem gordo, não seria fácil. Eu quis ir no lugar dele, mas ele não deixou. Fui obrigado a deixá-lo ir. Vi-o com seu gorro preto de pano, casaco comprido preto e uma túnica azul-escura acolchoada, andando devagar até a beira dos trilhos, inclinando-se com cuidado para descer — não foi tão difícil. Mas para subir do outro lado, foi bem mais complicado: usava as mãos para se apoiar e puxava as pernas com esforço; seu corpo corpulento se inclinava para o lado, mostrando toda a dificuldade. Nesse instante, vi suas costas — e as lágrimas escorreram sem controle. Limpei-as rápido, com medo de que ele visse. Quando olhei de novo, ele já voltava com as laranjas nos braços. Ao atravessar os trilhos, primeiro colocou as laranjas no chão, desceu lentamente, depois pegou as frutas de novo e voltou. Quando chegou, corri para ajudá-lo. Subimos no trem, ele colocou todas as laranjas no meu casaco. Bateu o pó da roupa com leveza, com um ar de alívio. Depois de um tempo, disse: “Vou indo. Me escreva quando chegar.” Fiquei olhando enquanto se afastava. Ele andou alguns passos, olhou para trás e disse: “Entre logo, não tem ninguém lá dentro.” Esperei até que sua silhueta se perdesse na multidão, então voltei para o assento. E chorei novamente.
Nos últimos anos, meu pai e eu vivemos cada um para um lado. A situação da família foi só piorando. Quando jovem, ele saiu para trabalhar e sustentou tudo sozinho, realizou muitas coisas. Mas a velhice chegou dura demais! Diante disso, é natural que ele tenha se tornado mais amargurado e sensível. Seu sofrimento se expressava em pequenos aborrecimentos familiares, muitas vezes com raiva. Ele já não me tratava como antes. Mas nos dois anos sem nos ver, ele parece ter esquecido meus erros, só se preocupava comigo — com o filho dele.
Depois que voltei para o norte, recebi uma carta dele. Escreveu:
“Minha saúde está bem, só o ombro dói muito. Fica difícil até segurar os talheres ou a caneta. Acho que meus dias estão chegando ao fim.”
Ao ler isso, entre lágrimas, vi de novo aquela silhueta corpulenta, vestindo a túnica azul-escura e o casaco preto, atravessando os trilhos com esforço.
Ai… Não sei.
Tempo da narrativa: Podemos apontar dois trechos da obra onde vimos duas passagens de tempo diferente "Naquele inverno, minha avó faleceu e meu pai perdeu o emprego — dias em que as desgraças não vinham sozinhas. Eu fui de Pequim para Xuzhou, com a intenção de acompanhá-lo no funeral. Ao chegar e vê-lo no meio da bagunça no quintal, lembrei de minha avó e não pude conter as lágrimas. Meu pai disse: “As coisas já aconteceram assim, não fique triste. O céu nunca fecha todos os caminhos para as pessoas." Nesse trecho podemos analisar a velocidade do tempo, que é apresentado através da menção "naquele inverno" que remete três meses , aqui o autor resume o tempo de três meses nas ações que o protagonista realizou nesse momento. diferente do momento em que o protagonista realiza uma analise detalhada de seu pai, deixando a mensagem ao leitor, uma última olhada , a despedida, onde apresenta de forma nítida um alto teor catártico que remete ao leitor o momento de despedida de alguém muito querido(a). Dando sentido ao título "a silhueta de costas".
Leitor modelo: O leitor modelo é aquele leitor que ler o livro buscando compreender e analisar cada detalhe da obra, afim de explorar a experiência de leitura por inteiro. Nesse caso identificamos que todas eram leitores modelos já que estávamos estudando a obra.
A experiência de ter sido monitora delas foi fantástica , uma troca maravilhosa de cultura.
By: JS Livros
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