Comparação entre artes - A seleção & Paris errada

SÉRIE PARIS ERRADA   E A SELEÇÃO



    

Análise crítica e mimética de Paris Errada em relação a A Seleção




A obra Paris Errada se apresenta como uma adaptação contemporânea e crítica do universo de A Seleção, de Kiera Cass. Ambas as narrativas se estruturam sobre um mesmo alicerce: a tensão entre o amor e a sobrevivência, o desejo e a necessidade, o sonho e a realidade social que limita as escolhas das protagonistas. No entanto, enquanto A Seleção se situa em um cenário monárquico distópico, no qual América Singer é levada a disputar o coração do príncipe Maxon para livrar sua família da miséria, Paris Errada transpõe essa lógica para um contexto mais realista e simbólico — o da meritocracia ilusória e das desigualdades econômicas do presente.

A protagonista de Paris Errada sonha em ingressar na faculdade, mas é impedida por limitações financeiras. Seu dilema reflete, de maneira mimética, o drama coletivo de jovens que veem na educação uma via de ascensão social, mas se deparam com um sistema que privilegia poucos. Ao aceitar participar de um programa televisivo onde mulheres competem pelo amor de um homem rico — um fazendeiro —, ela encarna a contradição entre autonomia e submissão, liberdade e dependência. Tal escolha, embora motivada pela esperança de mudar de vida, denuncia uma sociedade que transforma o afeto em espetáculo e o amor em moeda.


Enquanto América, em A Seleção, é construída sob a promessa de um conto de fadas moderno — onde o amor vence a hierarquia —, Paris Errada subverte esse ideal. Sua protagonista não busca o amor como um destino romântico, mas como uma consequência possível de uma estratégia de sobrevivência. Há, portanto, um teor mimético evidente na forma como Paris Errada reflete a realidade social e emocional de muitas mulheres contemporâneas, que se veem forçadas a negociar seus sonhos dentro de um sistema que mercantiliza tanto o corpo quanto os sentimentos.

Do ponto de vista catártico, a narrativa promove uma experiência de purgação não pela realização do romance idealizado, mas pela confrontação do leitor com a precariedade dos sonhos modernos. A frustração e a consciência crítica que emergem do enredo não conduzem à esperança, mas a um reconhecimento doloroso — e necessário — da condição humana frente às desigualdades. O amor, em Paris Errada, não é a salvação, mas o espelho de um mundo onde até a emoção precisa de patrocínio.

Assim, Paris Errada não é apenas uma releitura de A Seleção; é sua ressignificação crítica. Ao
deslocar o conto de fadas para um cenário possível e cotidiano, a obra rompe com o escapismo e propõe um olhar realista, social e psicológico. O mito da princesa é desmontado, e o fazendeiro rico, longe de ser um príncipe encantado, torna-se o símbolo de uma estrutura patriarcal que ainda define quem pode ou não sonhar.

Em suma, o texto de Paris Errada cumpre uma função dupla: mimética, ao refletir a sociedade e suas contradições; e catártica, ao provocar no leitor o desconforto necessário para pensar o amor, a ambição e a desigualdade sob uma nova perspectiva — mais amarga, porém mais verdadeira.



By: JS Livros

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